SOCIEDADE PORTUGUESA DE OVINOTECNIA E CAPRINOTECNIA
Recursos Genéticos -  Ovinos
Campaniça - História
 
Origem e efectivos

 A origem bordaleira da ovelha Campaniça, que apresenta perfil convexo, lã de tipo cruzado e altosa, diferente do Merino e do Churro, cujo cruzamento foi indevidamente considerado o percursor do tronco bordaleiro, a que também pertencem as raças espanholas Manchega e Aragonesa  e as nossas Serra da Estrela, Bordaleira de Entre Douro e Minho e Saloia.

O seu solar de origem é o "Campo Branco" que se estende pela planura Sul-Alentejana nos concelhos de Mértola, Almodôvar, Castro Verde e parte de Ourique. Trata-se de uma região de condições geoclimáticas adversas, caracterizada por solos muito pobres, carentes em fósforo e matéria orgânica, degradados por culturas sucessivas de cereais, com um clima bastante quente e seco no Verão, de chuvas irregulares no Inverno e Primavera e um Outono que embora mais ameno não proporciona em regra chuvas suficientes para as tão necessárias pastagens espontâneas.

 A extraordinária resistência da ovelha Campaniça às condições agrestes do meio, permite que seja considerada como uma realidade ecológica, resultante duma selecção quase natural.

 A rusticidade é a sua maior virtude, fruto de uma melhoria genética devida ao facto de desde sempre se escolheram os animais mais resistentes e não necessariamente os de maiores potencialidades produtivas. Chama-se a atenção para os riscos do progressivo amerinamento da raça que se processou gradualmente de norte para sul, começando nos concelhos de Ourique e Castro Verde, depois em Almodôvar e finalmente em Mértola, onde o abastardamento pelo Merino e até pelo Ile-de-France, embora em menor grau, é também a regra. Apesar deste facto, no concelho de Mértola, é evidente a marca do ovino Campaniço. Nalguns rebanhos observam-se exemplares que apresentam características morfológicas como o pequeno tamanho, membros finos, cara e cabos deslanados que se enquadram no fenótipo Campaniço. Este fenótipo entende-se como resultado do mestiçamento verificado e imposto pelas condições do meio, mas também pela força do seu potencial genético, próprio duma raça primitiva. Tanto assim é que, dos animais inscritos no Registo Zootécnico, num total de aproximadamente de 2500, 2000 localizam-se em Mértola, 100 encontram-se no Algarve e 400 no concelho de Serpa. Estes núcleos são no entanto originários do concelho de Mértola.
 

Sistema de exploração

O sistema tradicional de regime extensivo, foi nos últimos anos, gradualmente substituído por um regime mais equilibrado com recurso à suplementação alimentar nas épocas de crise e à utilização dos parqueamentos com pastagens melhoradas.

No concelho de Mértola assistiu-se com a implementação do PAPCAM a uma verdadeira reconversão agrária. Um quarto da área total, cerca de 25 000 ha, foram objecto de beneficiação com pastagens parqueadas melhoradas, tendo o efectivo ovino quase duplicado nos últimos sete anos - 60.000 em 1987 para 100.500 em 1994. O encabeçamento inicial de 0.5 ovelhas/ha atingiu nas áreas abrangidas 2 ovelhas/ha. Devemos no entanto chamar a atenção para o facto da intensificação processada obrigar a um custo por ha muito mais elevado o que necessariamente implica uma resposta no aumento da carga animal por ha e o concomitante acréscimo de encabeçamento. A Ovelha Campaniça extraordinariamente bem adaptada ao meio ambiente, de ração de manutenção mais baixa que os outros ovinos, com taxas globais de produtividade que lhe não são inferiores é em nosso entender o tipo de ovino que melhor corresponde a esse desiderato.
 

Livro Genealógico

 Várias entidades desenvolveram acções processadas visando o melhoramento e a preservação da raça Campaniça. Refere-se particularmente o trabalho desenvolvido na década de 50 pelo Dr. Teófilo Frazão, Intendente de Pecuária de Beja, que culminou com a publicação da valiosa obra "Ovinos Campaniços" - D.G.S.P. - 1982, que pode ser considerada como a Bíblia da Raça Campaniça.

 Importante també tem sido a acção da ACOS, promovendo exposições e concursos anuais da raça Campaniça em todas as edições da OVIBEJA desde 1984.

 Após a institucionalização do Registo Zootécnico pela D.G.S.P. em 6/11/87 e delegação na ACOS, inscreveram-se na fase inicial 7 criadores com um total de 1616 animais.

 Aderiram ao Plano de Melhoramento do Campaniço promovido pela D.G.S.P. 5 criadores cujas descendências dos animais inscritos foram objecto de contrastes de crescimento. Estes elementos constituem um somatório de dados de grande interesse para a implementação do Plano de Melhoramento da Raça Campaniça.
 

Conduto, R. (1996). A Ovelha Campaniça – origem, Livro Genealógico, Características Genéticas, Morfológicas e Produtivas. Sistemas de exploração. Colectânea S.P.O.C., vol6, nº1.
 
 

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A CAMPANIÇA

“... Estando a produção das lãs brancas limitada aos concelhos da antiga comarca de Ourique, onde são muito estimadas para a fabricação de mantas e outros artigos industreais que distrito e fora d'elle são de bastante consumo e muito apreciadas”

Eutropio Ferreira Silveira Machado,
Intendente de Pecuária do Distrito de Beja (1871)
 

 “As lãs produzidas ... são todas de cor preta”, conforme refere aquele autor no seu relatório de Recenseamento Geral dos Gados no Continente do Reino de Portugal, publicado em 1873, quando destaca a qualidade de lã dos ovinos dos Concelhos de Moura, Serpa, Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo e Aljustrel, o que estava de acordo com o panorama ovino nacional e levou Mestre Bernardo Lima a escrever também naquela publicação. “Com efeito, não conhecemos na Europa nenhum Paiz onde as raças lanares pretas se apresentem em altas proporções...”

 As afirmações destes dois autores e autoridades no assunto e o conhecimento directo que colheram no terreno, permitem pensar que os ovinos de raça Campaniça, desde tempos recuados, constituíram um agrupamento étnico distinto, portanto com características próprias, com a sua “especificidade” que ocupava uma área relativamente extensa e homogénea dos campos de Ourique, desde sempre uma “Zona Difícil” que moldou “O animal indicado para os Meios Difíceis” tão bem adaptada à pobreza alimentar à rudeza da terra, só compatível com um animal extremamente rústico, sendo o único ovino capaz de produzir no regime pastoril que lhe era imposto à custa de parcos recursos naturais, que nos melhores anos e em períodos relativamente curtos, possibilitavam a satisfação das necessidades alimentares e acumular algumas reservas para a prolongada temporada de carências quantitativas e qualitativas que se seguia.

 Surgiu assim uma raça rústica que em 1991 figurou na exposição das raças ovinas rústicas da Europa realizada na feira da Agricultura em Paris.

 A sua rusticidade, sobriedade e adaptabilidade permitem que seja explorada na sua tripla função - Carne - Leite - Lã, bem como justamente catalogá-la de raça fácil para os meios difíceis, tanto assim que das muitas raças experimentadas para o melhoramento lanar em Trás-os-Montes foi a que melhor ali se adaptou (L. Ferreira, comunicação verbal).

 Assistiu-se no entanto com o decorrer dos anos e com a introdução de novas tecnologias, ao abastardamento destes rebanhos pela raça Merina “Merinização”, assim como por outras raças especializadas na produção de carne.
 

 Estado actual do Efectivo Campaniço

 Quando nos propusemos tratar os temas no nosso entendimento, tínhamos presente o número reduzido do efectivo Ovino Campaniço, que tem decrescido conforme se pode verificar no Quadro 1. Embora os números apresentados pelos vários autores aparentem ser divergentes, tal se deve à diferença dos critérios utilizados na sua obtenção. Por isso devem ser somente considerados como indicadores. Mas não quisemos deixar de apresentar alguns elementos existentes.

Quadro 1 - Evolução do efectivo das ovelhas Campaniças

Fonte
Ano
Nº Animais 
 T. Lopes Frazão
1659
121.500
 Eugénio Tropa
1967
84.500
 Cabral Calheiros
1981
156.000
 Recursos Genéticos (DGP)
1987
30.000
 Exposição Documental das Raça     Autóctones
1991
9.000

A tendência do decréscimo deste tipo de animal acentuou-se com a desvalorização da lã, tanto que nos anos 70 já tivemos dificuldades em arranjar animais com as características para figurar na Feira da Primavera em Beja e tal foi confirmado no terreno por um de nós em 1977, quando participou num grupo de trabalho nomeado para avaliar a situação desta raça.

O último número referente ao ano de 1991 está neste momento acima da realidade.

Sobral, M. e Sobral, L. F. (1996). A produção de carne e de queijo da Raça Campaniça. Colectânea S.P.O.C., vol. 6, nº1.
 
 


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